Onde estávamos? O que fizemos?

Podemos redesenhar o futuro, mas precisa ser agora.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na quarta-feira, 15/07, nos revela que existem 11 milhões de analfabetos(as) com mais de 15 anos no Brasil. A pesquisa mostra ainda que, dos 10 milhões de jovens na faixa dos 14 e 29 anos que deixaram de ir à escola, 71,7% são pretos(as) ou pardos(as) e enfrentam as inúmeras desigualdades de nossa sociedade.

No contexto da pandemia, não é demais relembrarmos que essa juventude à qual se refere a pesquisa é excluída tecnologicamente e padece da ausência de material de leitura atualizado, de diálogos e ambientes favoráveis aos estudos e de ânimo para seguir aplicada aos estudos, que, por sua vez, tornam-se privilégio de outra parcela de estudantes.

No ensino médio, 39,1% abandonam os estudos para trabalhar e auxiliar nas despesas de suas famílias, e outros 23,8% entre as mulheres engravidam ao longo dos estudos e têm de abandoná-los. Mas a evasão não é apenas um problema do ensino médio. Também a encontramos nas universidades, onde apenas 17,4% completam seus estudos, frente aos 4% que permanecem com o curso incompleto com 25 anos ou mais. Algo se destaca na pesquisa: “73,7% dos estudantes de graduação frequentavam uma instituição de ensino privada […]. Nos cursos de pós-graduação, a rede privada foi responsável por 74,3% dos alunos […]”.

Diante desse cenário, pergunto-me: onde estávamos?

Sei perfeitamente o valor da educação na vida de uma jovem. Sei muito bem a maratona de morar em casas estudantis, restaurantes universitários, estudos à luz fraca de lâmpadas repartidas em uma mesa coletiva de estudos e a importância dos movimentos estudantis que incluem e fortalecem os laços, nos animando a não desistir.

Em cenários comuns, a garantia do acesso, da permanência, da inclusão, da saúde, da geração de emprego e de renda que permitam a esses(as) jovens permanecer estudando já é complexa. Imaginemos em cenários de pandemia. Vejamos o que aponta a pesquisa social, cujos primeiros resultados chegam à comunidade da UnB e nos revelam quantos(as) de nossos(as) estudantes não têm computador para desenvolver as atividades remotas. Observando apenas as cinco unidades com maior percentual de exclusão, temos a FUP, com 23,7%; em seguida o CET, com 14%; o ICS, com 13%; a FEF, com 11,7%; e o IH, com 10,9%.

Apesar de a tecnologia ser uma variável necessária neste período de retorno remoto, temos que repensar o processo de ensino e aprendizagem no que se refere aos recursos disponíveis. Muitos(as) de nós, professores(as), não somos nativos(as) digitais, mas não tenho dúvidas quanto ao empenho que estamos dedicando a essa migração.

Os números, que ainda não representam a totalidade da nossa comunidade, nos confirmam alguns dos nossos desafios no futuro para a redução das desigualdades de acesso ao ensino superior público e para o incremento de políticas internas de incentivo e permanência na universidade. Podemos redesenhar o futuro, mas precisa ser agora. Não podemos ter medo do descortinar, na janela do presente, das oportunidades do futuro. Não devemos permitir que o lugar da esperança seja ocupado pelo desencanto, tampouco abandonar nossos mundos imaginários, onde nos é permitido estudar, viver, amar e ser livres, com dignidade. Novos tempos virão…

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