Cultura de paz e não violência.

A semana que se encerra fecha sua página com uma tristeza imensurável. Uma dor, sem medida, para todas as famílias que viram na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na grande São Paulo, mais que um palco de massacre, viram a banalização do mal em sua plenitude. Uma miséria da alma humana. Assistir a jovens correndo pelo pátio da escola na luta pelo direito de viver, assistir a imagens covardes e crueis do ataque circulando pelas TVs e outros meios de comunicação, nos faz perguntar: Que barbárie é essa que se instala no Brasil?

Que onda de desesperança e falta de sentido ao valor da vida, inundam as mentes e corações dessas, ainda “crianças”, capazes, fria e calculadamente de interromperem seus próprios futuros, e o último suspiro de vida de dezenas de outros. Por onde andam as famílias, a sociedade, o Estado e seus governos, que deixam as marcas de sangue, dor, medo, tristeza, e pavor invadirem as Escolas, ambientes cuja missão é ensinar e aprender a pedagogia virtuosa da cultura de paz e não violência?

Um ato de extrema violência e desumano, que subtrai a vida da coordenadora pedagógica já agonizante, que em seu cotidiano se dedicava a prevenção da agressão física, verbal, simbólica (bullying), a violência silenciada (indiferença ao outro) e a violência estrutural, deixando a escola atordoada, sem horizonte.

Para onde caminha nossa nação, onde nem a Catedral escapa de massacre e matança (Campinas), e que ainda alimenta a ideia de armar nossa população? Já não basta a epidemia das mais diferentes expressões de violência? Será que é pouco ver o Brasil no mapa mundi, como um dos países mais violentos, com 64.000 homicídios, onde dois terços foram realizados por armas de fogo (2017). Querem também, nessa matéria, imitar os massacres escolares dos EUA? Será que é pouco ver a perplexidade e a dor do povo diante desses e outros fotos, clamando por segurança em todos os recantos do país?

Já passou da hora de invertermos o eco, a agenda política daqueles que apregoam em praça pública por imagens e palavras, sobretudo junto às crianças e adolescentes, a defesa extrema da violência, ao invés do amor à vida e à paz.

Já passou da hora de respeitarmos também as estatísticas, nacionais e internacionais, que nos dizem que quanto mais armas, mais mortes. Portanto, o que necessitamos não são armas nas ruas, nas nossas mãos de professores, educadores, gestores públicos, da sociedade em geral. Necessitamos, sim, ampliar as ações dirigidas à cultura de paz em todos os lugares, recordando que há um profundo esgotamento de modelos voltados ao enfrentamento da violência, pela via repressiva.

Precisamos, sim, compreendermos que essa é uma tarefa de todos, por isso, as famílias necessitam estar presentes, confirmando seus afetos, amores, e toda a comunidade escolar envolvidos num projeto político pedagógico às mudanças significativas de cultura nas escolas e na sociedade.

Precisamos, sobretudo entender que a paz, o desenvolvimento, os direitos humanos e a democracia são conceitos interdependentes que se requerem mutuamente. E, assim, que estes sejam expressos nos valores mais significativos de convivência como o respeito, educação, diálogo, cooperação, solidariedade, tolerância, humildade e ética, como condicionantes à promoção da cultura de paz e não violência. Nesse sentido, a pedagogia da exemplaridade, na busca da essencialidade do ser, da vida como valor supremo, é alimento vital à transformação urgente de uma sociedade mais justa, humana e fraterna.

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