Resiste a temporais políticos e à ventania das palavras descabidas soltas ao vento.
É forte, porque vem sendo construída ao longo dos seus atuais 60 anos pelas mãos, mentes e corações de bravas mulheres e homens determinados. Bravas porque não temeram deixar para trás suas cidades de origem para edificar, em pleno planalto central, a princesa do Cerrado, a cidade da esperança, nossa capital nacional. Determinados, pois muitos doaram até o próprio sangue por seus ideais.
Uma capital que nunca se intimidou em assumir a abertura aos encontros e desencontros entrelaçados entre candangos(as), engenheiros(as), arquitetos(as), professores(as), jornalistas, enfermeiros(as), médicos(as), para juntos(as), imprimirem suas digitais em cada pilotis das superquadras com o suor do seu trabalho. À época, estes homens e mulheres calçavam sandálias moldadas pela humildade, respeito, solidariedade, espírito público, afeto, e, principalmente, pelo sentimento de pertencimento, aquele que enche nossa alma de orgulho, que nos faz cantarolar o verso e a prosa daqueles que declaram cotidianamente seu amor por Brasília.
Um amor que não cabe no coração de medíocres, virulentos(as), negacionistas, odientos(as), “miasmas pútridos” que se originam daqueles(as) cuja oratória construtiva inexiste. A esses(as) dizemos em praça pública: Brasília é mais forte que suas verborragias. Sua gente sabe que pode e deve seguir solidificando nas linhas e curvas do seu concreto, nos asfaltos das grandes avenidas ou em suas veredas, o plantio das sementes férteis e enraizadas da democracia, da liberdade e da defesa incondicional da vida numa nação soberana.
Sabe, sobretudo, que “passantes” aventureiros(as) não mancharão a consagração da “cidade morena” como Patrimônio da Humanidade, muito menos impedirão os voos rasantes das corujas buraqueiras que teimam, incansavelmente, em planar entre o Eixo Monumental, passando pelas comerciais e autarquias, até chegarem à Esplanada, anunciando a utopia do porvir.
Um porvir incerto, é bem verdade. Porque Brasília e o Brasil “hospedam” aqueles(as) que ignoram, no sentido literal da palavra, a tragédia sócio sanitária e econômica que atravessamos, e desprezam a escalada dos números de contaminados e óbitos, nos colocando no epicentro da epidemia, evidenciando o desgoverno em que nos encontramos, e que despreza qualquer liturgia ou rito.
Desgovernados(as) estamos diante da truculência, da falta de empatia e do total desprezo pelas dores, sofrimentos e mortes de milhares de brasileiros(as). De igual maneira estamos à deriva, sem informações reais da situação dos contaminados-mortos, com subnotificações, com altas taxas de ocupações dos leitos hospitalares, com flexibilidades desordenadas, sinalizando, infelizmente, que o país perdeu o controle da situação. Que tempo restará para que se discuta o colapso do sistema hospitalar e, porque não dizer, do alpinismo das mortes e falência dos cemitérios?
É disso que os governos devem se ocupar: achatar a curva do Covid-19; salvar vidas criando condições para que as populações vulneráveis possam ficar em casa se cuidando a partir de uma renda básica universal; quebrando a regra do teto de gastos públicos, inclusive porque a mesma regra permite sua flexibilização prevista em situações extremas como guerras e calamidades públicas como a que vivemos e já votada pelo Congresso Nacional; colocando todas as riquezas da nação a serviço de sua gente; e valorizando um dos seus maiores patrimônios: os(as) servidores(as) públicos.
Para isso servem os governos. Não para se aproveitarem da crise sanitária para, na calada da noite, leiloar o patrimônio nacional, entre eles o SUS, o Banco do Brasil, nosso ecossistema e sabe-se lá o que mais desconhecemos. É preciso sim aumentar os investimentos públicos em infraestrutura.
Devemos ficar cada vez mais atentos(as) aos que veem a morte com soberba, como uma seleção natural. Aos que afirmam que “todos vão se contaminar e morrer, é assim mesmo”. Trata-se da logorréia comum encontrada em darwinistas e fascistas.
A coluna vertebral de Brasília foi, é e continua sendo erguida pelos(as) trabalhadores(as), que não se curvarão na Praça dos Três Poderes, ao contrário, estarão lado a lado das verdadeiras cidades, vivas em seus territórios; saberão erguer suas cabeças e defender o gigante planalto e seus rochedos, com vozes de todos os tons, assim como o poeta: “ Luz das estrelas…Laço pro infinito…Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria… Isso pra mim é viver … Gosto tanto dela assim.”