No Dia Internacional da Saúde temos mais é que agradecer o trabalho de todos os profissionais que estão na linha de frente e também na retaguarda da saúde no Brasil e no mundo, diariamente colocando suas vidas e as de suas famílias em risco. Todos os anos, neste dia dedicado à consciência coletiva em defesa da saúde global, sempre escrevo algo que reafirme o direito fundamental de todo ser humano a ter direito a saúde como um bem universal, que prioriza e coopera à redistribuição das riquezas produzidas entre as nações.
Porém, diante da maior pandemia dos últimos 100 anos em curso no mundo, me pergunto: por que o maior risco de adoecer e morrer pelo Covid-19 não é somente o vírus, mas seus derivados e suas consequências, que ceifam 332.752 no Brasil, destas, 6.366 no Distrito Federal?
Quando me refiro aos derivados e suas consequências, falo das maldades dos governantes, com honrosas exceções, a quem cabe assegurar os devidos cuidados à proteção da saúde e vida de sua gente, mas que, ao contrário, trilham caminhos do ódio, da ganância, da ignorância e da quebra dos pactos constitucionais e federativos. Negando em seus governos o uso de capacidades e inteligências ao diálogo fraterno, à sabedoria e à compaixão para com o povo, razão maior do poder a eles instituído.
Um poder delegado pela população e que deveria ser restituído com as mais rigorosas e eficientes medidas de proteção humana. Ao invés disso, o que temos assistido pelos noticiários é a luta insana das famílias de trabalhadores entre o morrer de fome ou contrair o vírus e dele morrer.
Será que em outro qualquer Dia Internacional da Saúde teremos oportunidade para escrever outras histórias? Não quero mais falar dessa em que alguns políticos arrastam parte da população para as ruas, praças, avenidas, palácios, templos, disseminando vírus das diversas doenças da alma dos hipócritas. Enquanto eles se protegem em suas mansões, fazendas, casas de praias, se isolando em suas ilhas de fantasia, apregoando que o novo coronavírus SARS-CoV2 é fake news, arma biológica fabricada em laboratório, que há medicamentos para tratamento precoce, que vacinas modificam a genética humana, entre tantos outros boatos, revelando o atrevimento da uma das maiores doenças: a ignorância.
Uma ignorância desmedida que tem gerado crises as mais dolorosas e apagado os grandes feitos do país nas últimas décadas de construção do projeto da Reforma Sanitária Brasileira (RSB) e do Sistema Único de Saúde (SUS), descuidando, inclusive de quem cuida, a exemplo dos profissionais que estão na linha de frente e também na retaguarda.
Apesar do colapso em que se encontra o setor saúde, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, farmacêuticos, odontólogos, terapeutas ocupacionais, bioquímicos, biomédicos, técnicos de enfermagem e um sem fim de invisíveis, desde recepcionistas, seguranças e vigilantes, pessoal da limpeza, lavanderia, cozinha, motoristas, eletricistas, bombeiros hidráulicos, maqueiros, laboratoristas, sepultadores, infinitamente imersos em sobrecarga de trabalho e com a sensação de impotência ao vivenciar a agonia dos pacientes tentando respirar. Um verdadeiro teste de resistência, diante dos garrotes para evitar a sangria provocada por atitudes descontroladas e desgovernadas.
Espero que ainda haja tempo de pintarmos um retrato esperançoso das forças da saúde, e que num futuro próximo, possamos quebrar a cadeia de transmissão do Covid-19 e de outros vírus da humanidade. Com isso, renovar nossas forças para reerguermos o Distrito Federal e o país. Nessas tarefas, não podemos abandonar ninguém que tenha consciência de que não há saída fora da política, essa como um bem ético, moral e civilizatório das Nações Unidas. Assim, seguiremos saudando a ciência, o SUS, os profissionais da saúde, nosso maior patrimônio, e teremos motivos para refazer essa história numa cooperação global, não apenas contra o coronavírus, mas contra todos os patógenos futuros.