Chegamos a mais um dia dedicado à saúde mundial, quando todos se voltam à consciência coletiva em defesa da saúde global, direito fundamental de todo ser humano enquanto bem universal, que potencializa a produção de riqueza das nações e contribui para a sua redistribuição. Este ano quero dedicar minhas reflexões aos profissionais de saúde distribuídos nos quatro cantos do globo, mas em particular aos do meu país, um dos mais assolados pelo número de vítimas (mais de 700 mil óbitos) e por sequelas pandêmicas.
Quem sobreviveu à maior pandemia dos últimos 100 anos certamente saberá reconhecer sentido da gratidão dirigida cada profissional que esteve na linha de frente e na retaguarda da saúde, colocando diariamente suas vidas e as de suas famílias em risco. Sim, sobrevivemos, muitos profissionais de saúde também, mas estudos apontam que mais de 13,6 mil deles morreram durante o auge da pandemia de Covid-19 somente no Brasil.
Além desses números, há um outro ainda indefinido de casos de medo, estigma e preconceitos sofridos, além dos sintomas de fadiga, falta de ar, dor, tontura, sudorese, calafrios, tosse, perda de peso, ansiedade, falta de atenção, distúrbios no sono, articulações doloridas, lapsos de memória e enxaqueca, considerados como heranças malditas.
Todos nós acompanhamos a luta desses profissionais no Brasil, trabalhando sem os equipamentos de proteção adequados, exauridos pelas sucessivas explosões do número de casos, sobrecarregados por sempre haver muitos colegas em quarentena. Muitos tiveram que se afastar dos familiares, outros tiveram que trabalhar sob o luto das perdas, alguns vivendo a angústia da culpa por se suspeitarem veículos de contaminação.
Não podemos voltar ao passado, mas lembrá-lo, nos impede de cometer os mesmos erros, como atrasar o ciclo vacinal, negligenciar suportes materiais e técnicos para as unidades de tratamento, promover desinformação ao promover o estímulo ao uso de medicamentos ineficazes, reduzir o valor de benefícios sociais, evitar que imunizantes tenham seus lotes vencidos antes de chegar à população, desvalorizar os salários das categorias de saúde, entre tantos erros que não podem ser repetidos.
A sucessão de erros cometidos na saúde pública de 2016 até 2019 só ameaçaram e fragilizaram os grandes feitos do país nas últimas décadas com a construção do Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar dos desserviços, deve-se ao próprio SUS, com a capilaridade de sua rede e a dedicação de seus profissionais, termos evitada catástrofe ainda maior. Por isso, neste Dia Internacional da Saúde, venho agradecer a todas as categorias de profissionais da saúde, bem como àqueles trabalhadores invisibilizados, como recepcionistas, seguranças e vigilantes, agentes de limpeza e sepultadores, entre outros, por tudo que têm feito por nosso povo e nosso país.
Precisamos renovar as tintas do quadro da saúde pública no Brasil dando lugar a um novo retrato esperançoso para o projeto da saúde que precisamos. Para isso, é preciso renovar nossas forças para reerguermos o país e nossa casa, o Distrito Federal. Não podemos esquecer que não há saída fora da política, e que a boa política é um bem ético e uma enorme força civilizatória. Assim, seguiremos saudando a ciência, o SUS e nossos profissionais. Esses são nossos maiores patrimônios em saúde. Que possamos, enfim, contribuir para a reconstrução da história na perspectiva de um pacto social no país e de uma cooperação global solidária e justa, na permanentemente defesa, incondicional da saúde, em ambientes democráticos. Afinal democracia é saúde.