Tomo emprestado a frase de Maria Lacerda de Moura, uma pensadora brasileira e pacifista, ao afirmar: “em tempos como o de hoje, ninguém mais nasce de olhos fechados”, acrescento, nem mesmo àquelas que veem nas ciências exatas a única concretização das ideias na produção do conhecimento e da Ciência.
Produzir conhecimentos e ciências desprovidas das luzes que iluminam a capacidade de distinguir a riqueza e a pobreza de um povo, e suas formas justas de redistribuição, nos condenam a uma sociedade de corujas entristecidas. Entristecidas e com os olhos turvos, sem brilho para enxergar que as ciências sociais e humanas não são uma forma desconexa e desarticulada de conhecimentos das ciências tecnológicas. Afinal, essas, sobremaneira, necessitam de seres humanos coprodutores, melhor, de pessoas conscientes de suas inter-relações, em conexões planetárias à superação das desigualdades e das misérias humanas. Eis as razões da produção do conhecimento científico em qualquer sociedade que se desafie a ser demasiadamente humana.
Humana é a ciência que se ocupa em formar médicos, enfermeiros, engenheiros, veterinários, entre tantas outras profissões, capazes de cuidar de GENTE, ao invés de aprender a ceder, cegamente, aos líquidos mercados do capitalismo destruidor de um Estado-sociedade indutor da cidadania que possa legitimar a equidade, a justiça, a igualdade, a autonomia do seu povo, enquanto uma nação livre, soberana e profundamente democrática.
Não há desenvolvimento econômico, mesmo no mundo capitalista, sem a interseção das diversas áreas do conhecimento, sem o reconhecimento do homem em seus diversos e diferentes contextos sócio-histórico-político-cultural. Afinal, de que ciência estamos a falar? Para quem, por quem e por quê devemos investir nossas riquezas? A serviço do quê? Nenhum governante pode tomar essa decisão isoladamente.
O ato de governar, ainda que delegado por eleições, em “regras” nos regimes democráticos, não os entregam uma caneta com tinta desbotada e opaca que subtraia das pessoas capacidades, habilidades e atitudes de “aprender a aprender”, a pensarem ou verem o mundo por ângulos multidimensionais, e, por consequência, complexos.
Para isso, é central reconhecer que não haverá crescimento e desenvolvimento econômico, descolados da vida humana. E mais, que os saberes das Ciências Sociais devem aí estar, se quisermos ter um país construtor da cidadania plena.
O resto, é desserviço de quem não conhece nossos imensos, diversos e complexos ‘Brasis’. Mais grave, não entende de pedagogias à formação de profissionais comprometidos com o pais, cujo eixo estruturante ergue-se para além do bem econômico, do acesso regulado do capital volátil, centrando-se na ética da urgência na defesa da vida, com dignidade. Isso se faz, sobretudo, pelos olhos brilhantes das ciências sociais e humanas, não pela cegueira diurna e noturna dos ignorantes do mundo.