Mulheres na política: é preciso fazer valer esse direito

Para ocuparmos os espaços na política, temos travado uma luta hercúlea que atravessa séculos. Há quem aponte que, desde 1932, pelejamos para que nossos direitos tenham valor. Mas foi na saúde, por intermédio da dentista Isabel de Mattos, que surgiu o primeiro requerimento do direito de votar, em 1880. Embora esse direito não tenha durado um ano.

No início do século XIX, em Lages (RN), lá no Nordeste, a primeira mulher brasileira foi eleita prefeita. A Câmara Federal viu uma mulher tomar assento em suas cadeiras em 1934. Enquanto o Senado, só veria suas primeiras parlamentares mulheres em 1990. Mas afinal, esse direito já não tinha sido conquistado pelo código eleitoral de 1932? Por que seguimos lutando para tirar as mulheres dos bastidores da política e colocá-las no centro do poder?

Porque nunca tivemos esse poder. Melhor, ele sempre foi tutelado. O referido código obrigava os homens a votarem, com exceção para os miseráveis (mendigos) analfabetos e praças. Em seu Art. 121, as mulheres em qualquer idade eram isentas de exercer seu direito de votar, a não ser se seus pais e/ou esposos permitissem. Mais 15 anos de persistência e lá vem a constituição de 1946. Voto obrigatório. Espere um pouco, as mulheres que não sejam remuneradas pelo seu trabalho, não podem. Outra vez a permissão dos maridos.

Finalmente, em outro código eleitoral, em 1965, os direitos de votar entre homens e mulheres foram igualados. Será que ficamos livres das ordens patriarcais e suas feições no Estado brasileiro?

Quem viveu esse tempo do país que nos relate. A minha e a nova geração, tentam responder às raízes dessas múltiplas determinações que imperam em pleno século XXI, acerca da nossa baixa representação nos poderes políticos (executivo, legislativo e judiciário), apesar da Lei de Cotas, da Lei nº 12.034/09 que impõem aos partidos e coligações que o preenchimento do número de vagas seja de, no mínimo, 30%, e, no máximo, 70% para candidatos de diferentes sexos.

Explicações vem desde as amarras da velha política: os homens são os verdadeiros donos do poder, os partidos e suas instâncias lhe pertencem, o capital financeiro idem. E a resistência para a eleição de mulheres, e nossa persistência para sair dos bastidores da vida política, alguém já falou?

Silêncio. Elas são mais da metade do povo brasileiro. Mas seus os salários são menores do que os homens para as mesmas atividades. Nos negócios, lidera apenas 20%; nas chamadas ciências duras (matemática, tecnologia, engenharias, etc) quase não se fazem presentes. Nas câmaras de vereadores, ocupa apenas 1 em cada 7 cadeiras. No Congresso Nacional, de 512 cadeiras, lá estão elas em 45, representando 9% dos cargos na casa do povo.

Na arquitetônica casa do Senado Federal, que funciona desde 1826, o primeiro banheiro feminino adjacente foi inaugurado em 2016, nos conta Graziella Guiotti Testa. Não é uma anedota, é entristecedor. E no poder Executivo, a participação das mulheres na linha de comando, desde a proclamação da República, aos governos sociais democratas, não passou de uma dezena.

E agora? Agora, é hora de seguirmos investindo nas verdadeiras mulheres. Naquelas que não se postam em filas da velha política pedindo licença para entrar. Muito menos contar com a herança do patriarcado político dos seus pais e maridos, muito menos ficar embaixo das mesas dos finos restaurantes, enquanto eles decidem em quem o povo deve votar.

É hoje Brasília. Passou da hora de investirmos em mulheres que foram e são capazes de ingressar no mundo da política e tecer outras linhas no bordado das raízes do poder. Desse lugar, elas e nós, devemos desafiar o sistema, explorar nossas contradições, forçar nossos limites e apontar, por dever sócio político, outros caminhos que as caibam – por nós. E nós, fazendo valer esse direito de protagonizarmos nossas próprias lutas e reerguermos outras relações de poder nas escadas do mundo da política.

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