Mais uma vez as chuvas encontram uma UnB desprotegida.

No dia 9 de fevereiro, a Universidade de Brasília (UnB) foi novamente afetada por uma inundação causada por fortes chuvas. O Instituto de Física (IF) e o auditório recém entregue da Engenharia Florestal, assim como o Instituto Central de Ciências (ICC) Norte e Sul, foram parcialmente destruídos por alagamentos severos registrados pela mídia.

É lamentável que episódios como esse não sejam recentes. Desde 2011 até os incidentes ocorridos em 2017 e 2019, situações semelhantes têm ocorrido. O discurso de sermos surpreendidos tem limites. Falta uma gestão estratégica do GDF, mas também por parte da UnB para cuidar da vitalidade dos prédios construídos ao longo dos anos desde a fundação da universidade.

Trata-se de um histórico contínuo de eventos desta natureza, que ressalta a ausência de uma gestão estratégica sistemática e sustentável, voltada para a infraestrutura e a prevenção de danos. Recordemos que em 08 de novembro de 2017, os Pavilhões João Calmon e Anísio Teixeira foram interditados e 1.200 estudantes ficaram sem aulas.

Em 21 de abril de 2019, outra enchente tomou conta das instalações físicas da Universidade, dois locais dos mais atingidos foram o Departamento de Serviço Social, atingindo a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), e a UnBTV, onde computadores, fios de equipamentos, arquivos e o exibidor da emissora ficaram molhados devido à intensidade da chuva, deixando a programação da TV fora do ar.

Agora, mais recente, foi a vez do Instituto de Física ser o mais afetado. Além do Instituto de Exatas, o ICC Norte, local em que também funcionam outros espaços de ensino e pesquisa, teve registradas perdas em equipamentos, documentos, livros e mobiliários. O alagamento também atingiu outras áreas, como o Bloco Administrativo Eudoro de Sousa (BAES), Faculdade de Tecnologia e a edificação da Maloca.

É crucial reconhecer que a preservação adequada desses espaços é fundamental para manter a qualidade do ensino e das pesquisas desenvolvidas em nossa universidade. As consequências desses danos não são apenas imediatas, pois comprometem equipamentos valiosos, mas também experimentos em andamento frutos de vidas inteiras, materiais de pesquisa e, o mais importante, o aprendizado dos estudantes que estão por retornar dia 18 de março.

Além disso, as pesquisas que estão em andamento podem ser interrompidas, atrasando avanços significativos em diversas áreas do conhecimento, comprometendo também recursos de financiamento recebidos pelos grupos de pesquisa afetados pela calamidade.

Embora seja necessário investir em novas edificações, não podemos negligenciar ações de prevenção e drenagem que são necessárias há décadas, principalmente em períodos de chuvas e outras intempéries da natureza. Não podemos tão somente culpar a natureza ou o crescimento desordenado do Distrito Federal, tampouco nossa localização geográfica. A gestão da UnB precisa se antecipar aos fatos, que já são amplamente conhecidos.

Sei bem o que significa enfrentar chuvas torrenciais, pois quando fui diretora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS), de 2014 a 2018, nossa equipe de gestão à época enfrentou inundações que exigiram da direção inteligência em articular parcerias externas que aportassem estratégias de intervenção em tempo hábil e que permitissem nos anteciparmos aos fatos, na busca de soluções como limpeza semestral das calhas, instalação de manta protetora no teto, entre outros cuidados necessários a um prédio que data da década de 70, século passado.

É importante destacar que a UnB possui um valor imensurável, não só pela sua localização geopolítica, mas também pela missão para a qual foi criada, para pensar as principais questões do país. Por isso e muito mais, devemos preservar, com dedicação, tanto o nosso patrimônio material quanto imaterial. Precisamos de uma ação urgente, uma colaboração entre a administração, professores, técnico-administrativos, estudantes e a comunidade para que soluções duradouras e sustentáveis sejam viabilizadas. Juntos, podemos construir um novo tempo para a Universidade de Brasília, em que possamos, efetivamente, reconstruir o seu sentimento de pertencimento e de responsabilidade coletiva. Nossa querida UnB não pode ser apenas um crachá como passaporte aos falsos poderes.

Outros Artigos