Mais um calar de vozes assombra os corredores já vazios da UnB

Quem de nós não está sentindo falta das cores, das vozes e arrastar de cadeiras, encantos mais diversos e alegres que invadem as salas, pátios, gramados e corredores da nossa UnB? Levante a mão quem estiver na contramão do desejo de reencontrar colegas docentes, técnicos(as) administrativos(as) e nossos(as) estudantes para o bom diálogo regado aos cafezinhos dos nossos Amarelinhos.

Tal qual Darcy, que se dizia “Faminto de fazimentos”, e, como ele, apaixonada pela UnB, revelo-me saudosa do frenesi da nossa vida cotidiana do ensino, pesquisa, extensão e gestão no melhor dos fazeres dialógicos e democráticos de uma Universidade como a nossa: criada para criar, não para ditar regras sem ouvir sua própria comunidade, ainda mais num estado pandêmico e de incertezas que vivemos.

Ainda quando mal estamos conseguindo nos adaptar aos decretos que os governos federal e distrital nos anunciam com liberações desmedidas e nada planejadas para o retorno de atividades presenciais, colocando vidas em risco; enquanto as famílias ainda vivem seus lutos; as mulheres seguem em múltiplas jornadas; e muitos(as) ainda se aglomeram no mesmo espaço dividindo computadores, celulares, salas e quartos.

Apesar de todos os problemas de exclusão que já conhecemos, o retorno remoto anunciado pelo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPE) para o dia 17 de agosto na UnB, tem um calendário singular. Os (As) estudantes tem de escolher manter as disciplinas até o dia 20 de julho, sendo que as unidades têm até o dia 22 de julho para definirem quais disciplinas serão ofertadas no modo remoto. Vai ser confirmação de matrícula com bola de cristal e sem reestruturação real de oferta.

Não me queiram repetitiva, mas já se passaram 119 dias e permanecemos desconhecendo as reais situações das potencialidades e limites de nossa comunidade frente as iniciativas concretas para uma retomada segura, tão pouco remotamente. Ao contrário, somos pegas(as) de surpresa a cada reunião do CEPE, que apresenta posições pouco democráticas e nada dialógicas de negociação junto à comunidade. E mais, retarda a apresentação de informações importantes à tomada de decisão, a exemplo da pesquisa social sobre a qual, até o momento, pouco sabemos.

O que sabemos, é que nos trouxeram uma data de retomada remota sem antes sequer ter discutido, com seriedade e profundidade, as condições para que ninguém fique pra trás. São estudantes que merecem um ensino de qualidade, docentes que precisam ter segurança para trabalhar num formato emergencial e técnicos(as) que também precisam se adaptar ao novo cenário. Cada passo dado em nossa UnB, cada decisão tomada deve ser democrática e inclusiva, aos moldes da transparência e do respeito à comunidade que a ela dá vida.

Soubemos pela imprensa que não retornaremos de forma presencial este ano. Por formação na Saúde Pública, óbvio que não concordo com irresponsabilidades das que foram aventadas pelo GDF. No entanto, não podemos encarar as dificuldades de milhares de estudantes, discentes e técnicos(as) como se um problema menor fosse. Somos maiores que nossas dificuldades, é bem verdade. Inclusive pode ser uma oportunidade para nos refazermos, mas tenhamos cuidado com o contexto de mal estar psicossocial, inabilidades tecnológicas e a exclusão digital que pairam entre nós. Tenhamos em mente que uma instituição é feita por pessoas e estas, sabem reconhecer quem está ao lado delas, no momento em que mais necessitam ter voz.

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